Projeto Corpo Restrito
Após a 2.ª guerra mundial, na Europa central alguns ourives ainda em início de carreira, influenciados pelo experimentalismo das Artes Plásticas, conceberam Jóias sem primor para os conceitos concretistas da Joalharia até então. Porventura, formalmente, mais próximas da Pintura e da Escultura vanguardistas. Contudo, os materiais que usavam eram, em geral, os mesmos da Alta Joalharia.
Ex: Hermann Jünger; Klaus Ullrich; etc.
Os joalheiros das gerações seguintes quiseram ir mais longe nos seus projectos e isso levou-os à procura de novos materiais. Materiais até aí denominados “pobres” que passaram a chamar-se alternativos, como: o Aço; o Titânio; o Alumínio; os Acrílicos; as Resinas; a Fórmica; o Papel; etc. Passou a ser possível conceber formas aerodinâmicas em maiores dimensões e cores do que as usadas em materiais considerados “nobres”. Os novos materiais traziam linguagem própria. Ramon Puig Cuyas; Bruce Metcalf; Thomas Gentille e muitos outros seguiram o fascínio de alargar fronteiras, trabalhando com nobreza qualquer material tradicional ou alternativo.
O mesmo se tinha passado na Pintura e na Escultura mas sempre adaptando os materiais que ao longo da história foram surgindo, o que conduzia aquelas Obras a novas formas de expressão artística.
Em 1988, Leonor Doré, conservadora do “Museu Nacional de Arte Antiga” convidou joalheiros portugueses a apresentarem uma exposição, histórica, no Palácio da Ajuda intitulada: “A linguagem dos Novos Materiais”.
No conceito mais comercial, Jóia mesmo nos dicionários, implica a presença de metais e gemas preciosas. Porém uma barra de Ouro não é considerada uma Jóia, nem um Diamante, ainda que lapidado, o é. São como uma lata de tinta que não chega a ser uma Pintura.
No conceito contemporâneo de Joalharia de Autor, a preciosidade não é intrínseca aos materiais, mas sim ao conceptualismo e criatividade formal da Obra.
Nobres ou pobres todos os materiais serão ricos no cumprimento da sua função como matéria, na perspectiva de que a Arte é mais preciosa que o Ouro.
Fazer Joalharia sempre foi uma forma de fazer Escultura, dimensionada à escala humana.
Poderá ser prática para uso quotidiano ou supra dimensionada para rituais.
É na Igreja Católica que, sem dúvida, existe a maior colecção de Joalharia, enquanto equipamento eclesiástico .
Nas Jóias da coroa, de muitos reinos, existem adornos de difícil uso. Jóias ostensivas, esculturas que usadas tornam o corpo restrito.
“Corpo Restrito” – Evento de Joalharia Contemporânea de Autor, é um projecto ambicioso, criado em Faro (P) que reúne cerca de 20 Joalheiros; Escultores; Cenógrafos; Designers e outros Artistas Plásticos, que conceberam Obras para o corpo, de acordo com o tema proposto, pondo à prova as suas aspirações criativas, usando qualquer técnica e material.
“O corpo como suporte para Esculturas experimentalistas, Jóias arrojadas na dimensão e em contraponto com a anatomia humana, depuradas; altivas; elegantes e surpreendentes”
Muitos chegaram por caminhos desconhecidos, trouxeram as suas próprias “vertigens visuais da poesia”, tão variadas quanto possível.
Multidiversidade é, sem dúvida, o feito mais surpreendente do evento, registado para sempre pelo Fotógrafo Autor, Vasco Célio.
Filomeno Pereira de Sousa – 2014